Fic pós “A Maldição do Titã” (3º. Livro)
Estilo: Oneshot
Autor: Lucci Badolato
Shipper: Percabeth
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Aquilo cheirava mal. E olha que eu já estava acostumado com mau cheiro, principalmente depois do dragão do eterno mau hálito, que quase me fez derreter com seu bafo ácido na última missão, e de Tyson, que sempre vinha me abraçar pingando de suor após um dia trabalho sob o sol, na forja.
Mas eu nunca havia visto nada que cheirasse como aquilo.
- Estou pronta! – Minha mãe falou sorridente, saindo do banheiro depois de um banho de perfume. Ela parecia uma filha de Afrodite, cheirando a rosas demais, e retocando o batom. Mas eu não me sentia como se olhasse para Afrodite, ou qualquer uma das crias dela, até porque, era para minha mãe que eu olhava.
- Você vai acabar espantando o senhor Balofo com tanto perfume. – resmunguei antes de segui-la até o carro.
- Ah, Percy, Paul adora este perfume! Ah, você vai adorá-lo, ele é agradável, simpático, educado...
- E professor de inglês. – falei como se aquilo resumisse tudo. Bem, eu era disléxico, então ler era uma tortura para mim, e, indiscutivelmente, um prazer para ele. – Mas se você está feliz...
Mamãe sorriu abobalhada, então em dei conta de que ela não prestou a menor atenção no que eu estava dizendo. Ela não parava de falar no senhor Balofo, quero dizer, nas qualidades dele.
- Ele vai tentar arrumar uma vaga para você na escola que ele trabalha! – ela disse sorridente e esperançosa.
- Mamãe, não é uma boa idéia, você sabe que quanto mais velho eu fico, maior o meu poder de atrair monstros, não quero destruir a escola do Sr. Balofo. – ainda mais porque ele a faz tão feliz.
Mamãe já teve que aturar um cara mega-fedorento porque tentava encobrir o meu cheiro, ela se casou com um tirano para me proteger, e até hoje sinto a culpa pelos anos que ela sofreu. Eu não quero ser responsável por outro fracasso amoroso na vida de minha mãe, não mesmo.
Então o celular da minha mãe tocou. Ela atendeu, sorriu bastante e passou para mim:
- É ela!
Peguei o celular de sua mão, sabendo que era um mau negócio receber ligações. O que Annabeth tinha na cabeça? Era mais fácil estender um letreiro de neon em forma de seta que nunca parasse de piscar, apontando diretamente para nós lá da estratosfera, ou melhor, dos confins do Tártaro.
- Quantos monstros você quer que eu enfrente hoje, Annabeth? – Perguntei encostando o telefone na orelha. – Por que não me mandou uma mensagem de Íris?
- Ah, não quero correr o risco de interromper seu banho outra vez, Percy. – Ela respondeu no ato.
E pensar que eu quase havia me esquecido daquele incidente... quase. Há mais ou menos um mês, eu tomava meu banho quente bem tranqüilo, quando a cabeça de Annabeth aparece bem na minha frente e me interrompe bem no meio da minha cantoria. O que foi? Eu canto no banho, o que há de errado nisso?
Acho que meu silêncio falou por si só, porque ela continuou falando rapidamente.
- E aí, Cabeça de Alga? Quando vai ser a tal da “apresentação” na escola nova? – Annabeth perguntou.
- Hum, acho que semana que vem.
- Ótimo! Estou indo a Nova York em uma semana, a gente podia marcar alguma coisa, sei lá.
- Er, bem, pode ser...
- Ah, está passando aquele filme dos ratos voadores no cinema, a gente podia assistir!
- Arrã...
- Ótimo! Então te espero na saída do seu novo colégio, na semana que vem!
E ela desligou. Minha mãe me olhou com aquela cara de quem havia ouvido cada palavra da nossa conversa. Pera lá, não é todo dia que Annabeth fala ao celular, então ela meio que... grita.
- E você? Quando vai ser o seu encontro com... – Mamãe começou a dizer.
- Mamãe, não será um encontro!
- ...Annabeth! Ah, Percy, ela é tão inteligente! Sei que serão muito felizes! Poderão fugir de monstros juntos, já pensou nisso?
- Mãe, nós já fugimos de monstros juntos, e não precisamos ter “encontros” para isso. Ela é minha A-M-I-G-A! – afirmei com ênfase na palavra amiga, quase que soletrando.
O que minha mãe não sabia, era que eu quase perdi meu fígado de horror quando pensei que Annabeth poderia querer se unir às Caçadoras de Artemis. Elas têm que se manter afastadas de homens, então podem viver para sempre. Mas não é nada disso que os outros pensam, Annabeth e eu somos amigos, e tem toda aquela coisa dela sentir aquilo pelo Luke – que não está nem aí para ela, diga-se de passagem, e já tentou matá-la algumas vezes.
É porque eu não saberia sair em uma missão sem minha amiga. Às vezes eu me perguntava se Thalia estava curtindo seus eternos quinze anos e trezentos e sessenta e quatro dias com aquele bando de pré-adolescentes virgens. Aquilo não era a cara dela, nem um pouco. Às vezes tenho a sensação que depois que eu fizer dezesseis anos – se a tal profecia se cumprir mesmo comigo –, ela vai voltar correndo para o acampamento implorando para que a livrem de Artemis. Não que Artemis não seja legal, quero dizer, é que Thalia não é do tipo que pede permissão para fazer as coisas.
- No que você está pensando, Percy? – mamãe me tirou do transe. – Ah, depois ainda diz que não está apaixonado! – ela suspirou.
O que me deixa enjoado em pessoas apaixonadas, é que elas acham que o mundo inteiro está sentindo o mesmo. Revirei os olhos e simplesmente ignorei o que ela dizia.
- Mãe, Tyson me mandou uma mensagem de Íris, ele volta para o acampamento no próximo verão!
- Que coisa boa! Diga-me, ele continua chorando muito? Me corta o coração vê-lo chorar...
- Mãe, Tyson é uma criança! Bem, uma criança para um ciclope, quero dizer. Ele vai chorar sempre que se sentir triste!
Eu sentia falta do meu meio-irmão. Ele era grandão, desajeitado, monstro, mas era leal, amigo, e mesmo com todo seu ronco, era melhor dormir no chalé quando ele estava lá, no beliche de cima, com os pés sobrando para fora da cama. Eu me sentia menos solitário e temia menos meus próprios sonhos.
- Chegamos! – Mamãe anunciou estacionando em frente ao restaurante.
O lugar era pequeno, servia comida mexicana. Mamãe disse que queria algo mais aconchegante e familiar. O que, traduzindo, significa: Algo que seja mais fácil de “consertar”, depois que algum monstro aparecer e eu destruir tudo.
Mas não apareceu nenhum monstro, eu estava bem, sentado com minha mãe, e o tal do Paul, que eu preferia chamar de Sr. Balofo (não que ele soubesse), e prestes a comer o melhor taco da minha vida. O garçom se aproximou de nós, e eu senti um cheiro forte de enxofre. Alguma coisa devia estar queimando na cozinha, isso devia ser normal em restaurantes.
Pedi uma Coca-Cola, enquanto o Sr Balofo e minha mãe bebiam vinho. Quando o jantar chegou, o garçom se afastou tão rápido que pensei que estava com medo que a comida explodisse. Então só deu tempo que eu empurrasse os garfos de mamãe e do Balofo no chão antes que eles tocassem aqueles tacos.
Puxei Contracorrente do bolso e na hora que toquei nos tacos com a espada, eles explodiram, e voaram pedaços de tacos em chamas por todo o restaurante, colocando fogo nas cortinas, toalhas, bolsas, e depois desaparecendo em uma nuvem de pó negro.
Avistei o garçom se aproximando de mim, subi na mesa e corri até ele, então já era tarde demais quando percebi que ele era um dos esqueletos que estavam me perseguindo no ano anterior, eu estava muito próximo, não tinha mais como voltar. As pessoas gritavam e corriam, eu não sabia o que elas estavam vendo, por causa da Névoa, mas com certeza minha mãe teria de explicar alguma coisa ao senhor Balofo, se quisesse continuar namorando com ele. Piquei o esqueleto em pedaços, mas aquilo só me daria poucos segundos até ele se reconstruir, puxei minha mãe e o namorado dela pela mão e corremos para o carro.
- Sally, o que está acontecendo? – perguntou o atordoado senhor Blofis.
- Nada de mais, querido, Percy está se sentindo mal, vamos a um hospital, só isso!
Rezei para que os deuses nos dessem velocidade, porque o esqueleto já estava atrás de nós correndo. Então ele ia ficando cada vez menor e mais distante, até sumir no horizonte.
E eu acabei comendo pizza azul (que, na verdade, era de queijo e presunto, mas minha mãe colocava corante azul em tudo – longa história) com minha mãe e meu novo padrasto, no nosso apartamento, assistindo um filme repetido na TV por assinatura. E não é que o tal do senhor Balofo é um cara legal?
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